Sol Nascente. Loro Sae
Abre-se a terra para homenagear um povo que habitou as suas entranhas, enquanto aguardava que, um dia, o sol, como um galo de luta, anunciasse a vitória perpétua dos seus sonhos.Abre-se, depois, a terra para erguer um monumento à memória dos que já não viram o futuro, mas onde as cruzes brancas, em honra do seu sacrifiício,serão memória e fundamento de uma nova cidade.Abre-se, também, a terra para marcar uma fronteira visível entre essa memória das muitas vidas anónimas perdidas e a perfídia das resoluções urgentestodos os dias convenientemente adiadas.Abre-se, ainda, a terra para afastar, de vez, do sol nascente, as palavras ardilosas e os sorrisos dissimulados que, como um verme astuto e peçonhento,rastejam, sem rosto, pelos caminhos cobardes da traição cruel e impiedosa.E a terra abre-se, finalmente, para deixar o engenho das mãos e das máquinas limpar as sombras negras que o fogo do ódio projectou na paisagem clara e nas ruas férteis de tanta esperança. Que os nós que alimentam as cordas dessa esperança sejam bem firmes, para aguentarem os ventos de tanta adversidade. Eque nas praias do desespero de ontem, arribem, pela maré cheia, os barcos da boa-nova e da abundância. Nos porões da solidariedade hão-de levar, também,fado e saudade. Para cantar o destino de um país que terá de carregar, para sempre, em seu nome, como letra inicial, a cruz dolorosa da sua construção.
Augusto Mota, in "Juntos por Loro Sae", edição Jorlis, Leiria, Dezembro, 1999.
posted by ARABESCOS EM VARANDAS GREZ
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