Fusco Lusco

terça-feira, outubro 10, 2006

Para que a arte...

Para que a arte possa ser arte, não se lhe exige uma sinceridade absoluta, mas algum tipo de sinceridade. Um homem pode escrever um bom soneto de amor sob duas condições - porque está consumido pelo amor, ou porque está consumido pela arte. Tem de ser sincero no amor ou na arte; não pode ser ilustre em nenhum deles, ou seja no que for, de outro modo. Pode arder por dentro, sem pensar no soneto que está a escrever; pode arder por fora sem pensar no amor que está a imaginar. Mas tem de estar a arder algures. De contrário não conseguirá transcender a sua inferioridade humana.
Heróstrato e a busca da imortalidade
Fernando Pessoa

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