terça-feira, fevereiro 28, 2006
Não sei nada
"Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas."
Raul Brandão, "Se tivesse de recomeçar a vida"
sábado, fevereiro 25, 2006
Noite
Instalei-me à beira da janela grande e circular. Enquanto ouvia absorvida aquela música que fala de encontros e despedidas, fui tocada no ombro. Era o silêncio.
Contrariei a sua chegada por não querer abandonar-me nos sons dispersos da despedida. E a janela grande, que ali estava a mostrar- -me ideias, partiu entretanto, por achar não ser suficiente a imagem da lua que tinha para oferecer.
A noite caíra e a pouca luz dissipara o silêncio... a música estava de volta.
A música está sempre de volta !
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
ao ponto de partida
Ele caminhou lentamente, como se o seu peso o quisesse arrastar para o ponto de partida; ponto que o fazia sempre regressar, embora, por vezes duvidadasse das suas pretenções.
Queria seguir em frente, com a determinação suficiente para conseguir perder de vista o caminho que ficava para trás. Mas a memória batia-lhe à porta, insistentemente, sibilante... memória que,com o passar das horas se tornava indesejada.
Olhava para trás e olhava para trás mais uma desencorajada vez. E ao voltar-se e dar o passo seguinte já sentia de novo o arrastar lento do futuro que atravessava sem alento.
Queria seguir em frente, com a determinação suficiente para conseguir perder de vista o caminho que ficava para trás. Mas a memória batia-lhe à porta, insistentemente, sibilante... memória que,com o passar das horas se tornava indesejada.
Olhava para trás e olhava para trás mais uma desencorajada vez. E ao voltar-se e dar o passo seguinte já sentia de novo o arrastar lento do futuro que atravessava sem alento.
sábado, fevereiro 11, 2006
Só para mim
Queria ter o sol só para mim, tê-lo de forma a dele
poder de vez em quando ceder parte apenas a um dos
meus mais íntimos amigos.
"Poesia completa", Luís Miguel Nava
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
domingo, fevereiro 05, 2006
Mensajes
Cómo amaba los manuscritos de tus manos
en la alfombra
en la mesa de todos los días
en los mansos atardeceres
en el polvo de la ventana
en la monótona arena de la playa
Mansas manos
mensajes monosilábicos
Pero nunca supiste qué palabra escribías.
Cristina Peri-Rossi; "Linguística general" 1979
en la alfombra
en la mesa de todos los días
en los mansos atardeceres
en el polvo de la ventana
en la monótona arena de la playa
Mansas manos
mensajes monosilábicos
Pero nunca supiste qué palabra escribías.
Cristina Peri-Rossi; "Linguística general" 1979
Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
Ary dos Santos
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
Ary dos Santos
Não posso adiar o coração
(...)
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora idecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora idecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
sábado, fevereiro 04, 2006
Cambalhotas
Bom dia! disse ele atravessando sorrateiramente a soleira da porta! correu em seguida pelo páteo fora esgueirando-se pelo portão com um salto trapalhão que o fez desiquilibrar e, contrariando a gravidade, rolou numa série de cambalhotas até junto da sua bela, esguia, irresistivel e sedutora paixão: a bicicleta azul que recebera no Natal.
Tentou levantar-se a custo, e ela, a lustrosa paixão, manteve-se imperturbável, esperando silenciosamente pelo tão prometido passeio ao jardim. Ele, olhando-se de alto a baixo, confrontou envergonhado o seu novo visual e perdeu a coragem de olhar para ela com o mesmo vigor de antes... por força da triste circunstância, iria faltar ao prometido e abrir um precedente nesta sua relação...
E a bicicleta lá ficou, estacionada, à espera de um melhor dia e seduzindo quem passa.
E a bicicleta lá ficou, estacionada, à espera de um melhor dia e seduzindo quem passa.