Fusco Lusco

quarta-feira, março 29, 2006

Continuando a festejar o Teatro


Mensagem internacional do Dia Mundial do Teatro 2006:
Um raio de esperança
Víctor Hugo Rascón-Banda
Todos os dias deveriam ser Dias Mundiais do Teatro, porque nestes 20 séculos, a chama do teatro tem ardido constantemente nalgum canto do mundo. Ao teatro, sempre se decretou a morte, sobretudo com o aparecimento do cinema, da televisão e, agora, dos meios digitais. A tecnologia invadiu os cenários e aniquilou a dimensão humana, tentou-se um teatro plástico, próximo da pintura em movimento, que substituiu a palavra. Houve obras sem palavras, ou sem luz ou sem actores, somente máquinas e bonecos numa instalação com múltiplos jogos de luzes. A tecnologia tentou converter o teatro em fogo de artifício ou em espectáculo de feira.
Hoje assistimos ao regresso do actor em frente do espectador. Hoje presenciamos o retorno da palavra ao palco. O teatro renunciou à comunicação massiva e reconheceu os seus próprios limites que lhe impõem a presença de dois seres frente a frente comunicando sentimentos, emoções, sonhos e esperanças. A arte cénica está a deixar de contar histórias para debater ideias.
O teatro comove, ilumina, incomoda, perturba, exalta, revela, provoca, transgride. É uma conversa partilhada com a sociedade. O teatro é a primeira das artes que se confronta com o nada, as sombras e o silêncio para que surjam a palavra, o movimento, as luzes e a vida.
O teatro é um ser vivo que se consome a si mesmo enquanto se produz, mas constantemente renasce das cinzas. É uma comunicação mágica na qual cada pessoa dá e recebe algo que a transforma.
O teatro reflecte a angústia existencial do Homem e revela a condição humana. Através do teatro, não falam os seus criadores, mas a sociedade do seu tempo.O teatro tem inimigos visíveis, a ausência de educação artística na infância, que impede a sua descoberta e o seu usufruto; a pobreza que invade o mundo, afastando os espectadores, e a indiferença e o desprezo dos governos que deviam promovê-lo.
No teatro falavam os deuses e os homens, mas agora o homem fala para outros homens. Para isso o teatro tem de ser maior e melhor que a própria vida. O teatro é um acto de fé no valor de uma palavra sensata num mundo demente. É um acto de fé nos seres humanos que são responsáveis pelo seu destino.
É necessário viver o teatro para entender o que se passa, para transmitir a dor que está no ar, mas também para vislumbrar um raio de esperança no caos e pesadelo quotidianos. Longa vida aos oficiantes do rito teatral! Viva o teatro!

segunda-feira, março 27, 2006

Dia Mundial do Teatro

Amants - Alphonse Mucha

domingo, março 26, 2006

I believe I can fly

terça-feira, março 21, 2006

no dia mundial da poesia

Coisas tão felizes

Entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes
os instantâneos silencios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza furtuita, dizia eu
imortal, dizias tu
do vento?

José Tolentino Mendonça
in "Baldios"

segunda-feira, março 20, 2006

Passarito canoro

nome vulgar: Toutinegra Real
nome científico: Sylvia hortensis

Primavera

Nem sei sequer onde estava no momento em que tudo, de repente, aconteceu. Soltaram-se os ais e os uis desgarrados, elevaram-se as mãos num aceno ostensivo. E aqueles seres, voando precipitadamente pelos ares da vila, com o susto que apanharam, contrariaram o objectivo silencioso de querer anunciar de mansinho a primavera. Era tão esperada naquelas bandas que o povo não se conteve, adormecido que estava na vontade de explodir o seu desejo de sol. Mal se ouviu o esvoaçar do bando, o povo correu pelas ruas abaixo, em sentido contrário ao tráfego aéreo, parecendo querer despistar as intensões da estação. E os pássaros sairam da sua ordem de voo, espalhando-se pela pequena vila e tentando situar-se naquela estranha manifestação.
Afinal, a primavera tem o direito de aparecer como entender.... nem que seja com um dia de antecipação.
Para quê espantar a natureza!

Para se ser poeta


"Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, a dizer o que vê, vive, ama e perde.”

Rainer Maria Rilke
in "Cartas a um jovem poeta"

sábado, março 18, 2006

O sorriso do Chico Buarque

Tatuagem

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega, mas não lava

Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina, salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço

Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes

Chico Buarque e Ruy Guerra

Jacarandá que já não lá está

No jardim da minha cidade, alguns arbustos, esta árvore e os bancos das tardes à conversa já só estão na memória dos leirienses que por aqui passaram.
Esta árvore foi removida, possivelmente! Aguardo o seu regresso lá mais para o fim do verão.

Jardim Luís de Camões



O Jardim da minha cidade encerrou para obras. Local de passagem diária de muitos e muitos leirienses, é um jardim que, certamente, está guardado nas memórias e no coração dos que, como eu, nele habitam cada passo, cada espaço, cada verde variado.

Para o podermos visitar e conhecer aprofundadamente as suas árvores, basta entrar neste LINK. U m guia das árvores da cidade de Leiria, incluindo um mapa detalhado dese jardim. Basta clicar no desenho de cada árvore para a ficar a conhecer.

domingo, março 12, 2006

Olhando o céu

Foto de Carlos Viana

Também as há nesta cor

Para Seres Especiais... como esta Orquídea Especial
Foto de Ana Russo

Concerto para 3 contrabaixos e 1 fotógrafo

Aqui há dias comprei bilhete para assistir a um concerto de jazz: um trio de contrabaixos, de excelência, que visitou a cidade. Quando entrei na sala de concertos e a música começou, reparei num som maquinal, alheio, que povoava o ambiente. Era um fotógrafo jovem e bem parecido que disparava incansavelmente a sua máquina fotográfica. Aquela actividade prolongou-se por todo o espectáculo e, a pouco e pouco, a irritação foi-se apoderando do público mais sensível e atento. Eram dezenas de disparos que se ouviam, incessantes e irritantes e eu, perdida nos meus sentidos, não consegui concentrar-me na música. Cheguei à conclusão que estava sim, perante um Concerto para Três Contrabaixos e um Fotógrafo.
E, para agravar a situação, o rapaz jovem e bem parecido, no labor de seus disparos, não teve a destreza suficiente para acertar o seu ritmo frenético com o ritmo dos músicos.
Descobri que, afinal, para ser um bom fotógrafo é mesmo necessário ter um bom sentido rítmico.

Fernando Lopes Graça


Vai ter lugar em Coimbra um Congresso Internacional sobre o compositor Fernando Lopes Graça:
O Artista como Intelectual. No Centenário de Fernando Lopes Graça
... para mais informações aqui fica o LINK

sábado, março 11, 2006

O poeta

Quase nada

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, março 06, 2006

O castelo andante


Um filme de Miyazaki Hayao... estive a recordá-lo.

Parabéns Michelangelo

pormenor da Capela Sistina

"Ogn'ira, ogni miseria e ogni forza,chi d'amor s'arma vince ogni fortuna."
Michelangelo Buonarroti


Nasceu neste dia de 1475 em Caprese, Itália

domingo, março 05, 2006

Muts

sábado, março 04, 2006

Para que a arte possa ser arte

Para que a arte possa ser arte, não se lhe exige uma sinceridade absoluta, mas algum tipo de sinceridade. Um homem pode escrever um bom soneto de amor sob duas condições - porque está consumido pelo amor, ou porque está consumido pela arte. Tem de ser sincero no amor ou na arte; não pode ser ilustre em nenhum deles, ou seja no que for, de outro modo. Pode arder por dentro, sem pensar no soneto que está a escrever; pode arder por fora, sem pensar no amor que está a imaginar. Mas tem de estar a arder algures. De contrário, não conseguirá transcender a sua inferioridade humana.
Fernando Pessoa, "Heróstrato"

quinta-feira, março 02, 2006

o outono no inverno

quarta-feira, março 01, 2006

Coro exemplar

os sons mais inesperados, produzidos por um conjunto de vozes... para nos deixar fascinados por um novo motor. É a publicidade de um novo /">Honda.

Aplauso

"Sendo as palmas de estilo o género que tem mais saída no mercado teatral, um cavalheiro de lustre que possua braço vigoroso e boa chave de mão, poderá pelo estrondo ganhar honestamente o pão para a sua família, no dia em que se resolver a estabelecer os seus direitos com mais independência e soberania do que pedinchar relesmente um bilhete de entrada todas as noites e achar tudo bom, só pela comodidade de se sentar de graça."

Júlio César Machado e Rafael Bordalo Pinheiro, "Os teatros de Lisboa",1875


Estudo para a capa do livro "Os teatros de Lisboa", Rafael Bordalo Pinheiro