Fusco Lusco

segunda-feira, janeiro 30, 2006

assim também se nasce

"Era uma vez o menino pequenito, tão mimozito que todos seus dedos eram mindinhos. Dito assim, fino modo, ele, quando nasceu, nem foi dado à luz mas a uma simples fresta de claridade."

início do livro de Mia Couto intitulado "Na berma de nenhuma estrada"

nevou por cá

Hoje, pela manhã, também nevou à minha janela. Fui uma das felizes contempladas com o espectáculo. Demorei alguns minutos a acordar do sonho mas como os minutos duraram tanto tempo, tive que aceitar a evidencia de estar realmente acordada. Então corri a casa inteira para abrir as persianas para que o espectáculo percorresse toda as divisões.
As janelas pareciam pequenas telas de cinema por onde se podia apreciar o clip de vídeo da música "Let it snow, let it snow, let it snow!" como que anunciando a projecção de um filme com a Audrey Hepburn no papel principal. Fiquei-me pela contemplação silenciosa da neve a cair sem se deixar acomodar branquinha pelo chão. E, ao chegar a noite tive o desejo secreto de que pela manhã que aí vem, o espectáculo contínue.... para que a sétima arte se instale nesta nova modalidade, quem sabe, desta vez com o Sam a tocar "...you must remember this..."

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Parabéns, senhor Mozart

"Mozart makes you believe in God - much more than going to church - because it cannot be by chance that such a phenomenon arrives into this world and then passes after thirty-six years, leaving behind such an unbounded nunber of unparalleled masterpieces."
Sir Georg Solti
do livro "Musical Anedoctes" de Henry Kelly e John Foley

quarta-feira, janeiro 25, 2006




trouxe as águas do rio, iluminadas pelo reflexo dos olhos de alguém. acredito até que a lua nem estivesse presente, nestas horas em que tudo é calmo e o meu olhar está sereno....

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Uma palavra dorme em seu casulo
de saliva lavrada
está viva porém muda
e anulada

Uma palavra hiberna em seu conteúdo
seu buraco de som
seu palácio de letras:
Bela adormecida à espera de que tudo
volte a acordar nos poetas.

José Carlos Ary dos Santos

(ao Poeta que partiu neste mesmo dia de 1984)

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Memórias

Estava a tentar recuperar do frio que ontem me percorrera a memória. Os retratos foram aparecendo, saídos dessa pequena caixa que, por descuido, acabara por nunca forrar... as imagens pareciam- -me esbatidas comparando com a última vez que as vira e as recordações tinham-me esgotado.
Tirei os óculos para ver mais perto... e, claro! percebi de imediato que as lentes tinham enfrentado um choque térmico: era o frio da rua interagindo com o frio da memória e com o ar condicionado que agora me confortava... acho que as lentes reclamavam uma pequena limpeza.

terça-feira, janeiro 10, 2006

e os moinhos

e os moinhos soltam as velas ao vento revolto... daquele mar que, na calmia da sua imensidão, o deixa marear...
até que, por fim, encontre as areias brandas do sonho que sempre perdurará.

domingo, janeiro 08, 2006

Bicicleta

Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo, por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais -
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais. (...)

Herberto Helder

... ainda não aprendi a pedalar...